Operação “Blogueiros”, uma perseguição que resultou em nada







O Maranhão inteiro, ou até o Brasil, sabe que eu estava aguardando Décio Sá em um restaurante do calhau, próximo do Quartel da PM, onde costumávamos nos encontrar para uma gelada. No dia da sua morte, falei isto em entrevista e saiu na TV Mirante, Bom Dia Brasil, Jornal da tarde e Jornal nacional.

Dias depois a Polícia começou investigar o caso, ouvindo blogueiros e jornalistas. Todos o que frequentavam o restaurante quase todos os dias foram ouvidos pelos delegados, inclusive os garçons e o dono do estabelecimento, e até profissionais que algum dia conversaram com a vítima. Um bate cabeça danado.

Incialmente queriam saber o que eu comia, quanto comia, quanto bebia, o que tomava e as despesas por mês. Sinto vontade de sorrir quando lembro de tal episódio.

Depois montaram uma operação chamada de “Blogueiros”, grampeando a todos o que estavam no restaurante no dia em que Décio deixou de ir, na noite de 23 de abril de 2012. Ele optou por aceitar um convite e foi para o bar Estrela do Mar, na Litorânea, local onde foi cruelmente executado.

A operação “Blogueiros” se desenvolveu dentro das investigações que estavam sendo feitas para pegar mandantes e assassinos, colocando todos na mesma vala, inclusive Silvana Sá, viúva do jornalista, como suspeita. Que absurdo!

Mas a polícia, ao longo de 34 dias de grampos autorizados pela Justiça, nada encontrou contra a viúva e muito menos contra os blogueiros, sendo alguns deles peça fundamental para a elucidação do caso. Do contrário, a polícia maranhense estaria batendo cabeça até hoje.

Ao final do inquérito, nenhum jornalista e nenhum blogueiro foram indiciados. Mas agora que o inquérito veio à tona, vazado incialmente pela secretaria de segurança Pública para a TV Mirante e depois para outro veículos de comunicação, percebe-se o clima de perseguição que pairou naqueles 34 dias.

Ao longo do período em que estivemos grampeados, muitas coisas estranhas aconteceram. Por exemplo, o juiz Cidarta, citado por diversas vezes nos depoimentos não foi grampeado, assim como pessoas mais próximas do secretário Aluísio Mendes que foram interrogadas ficaram de fora. Isto só para ficar em dois exemplos.

Luis Pablo, meu filho, dava em primeira mão depoimentos das pessoas que estavam presas acusadas de mandantes do crime e até do próprio pistoleiro. Mendes cogitou a prisão do Pablo por vazamento de informações, numa clara tentativa de querer calar a cobertura do fato. A governadora Roseana Sarney pediu a ele cautela.

Ora, qual jornalismo que investiga os fatos não vai soltar as informações sigilosas de um crime de grande repercussão? E desde quando conversar ao telefone em busca de informações com quem quer que seja é crime?

Recordo aqui o caso do jornalista Policarpo Neto, da revista Veja, que tentaram de todas as formas enquadrá-lo e até indiciá-lo pelo fato de ser citar em conversas com alguma figuras de proa do esquema Carlinhos Cachoeira. Neto foi o jornalista que mostrou ao Brasil e ao mundo diversas casos de corrupção promovidos pela elite de nosso país.

Assim tem sido a vida de jornalistas e blogueiros que investigam fatos que contrariam interesses escusos, o baú da malversação de recursos públicos. E não será diferente nos próximos séculos.

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