UHE Canto do Rio. E agora... O quê?

     UHE Canto do Rio.      

E agora... O quê?



Pe. Alex Lafuente
 É a pergunta que tenho escutado muitas vezes nestes últimos dias. Qual a minha resposta, que é também a minha impressão depois de realizados os diversos encontros (Minas PCH e atingidos) e depois das Audiências Públicas?...Que estávamos assistindo, qual meros  espectadores, a um teatro que já tinha o final escrito e decretado. Como disse o Dr. Carlos no encontro do Tasso “um prato feito” ou “um bolo de carne”, como alguém me falou nestes dias, que tínhamos que engolir (prato feito ou bolo de carne que vai ser muito indigesto, sem a menor dúvida, e que vai provocar em muitos uma tremenda dor de barriga ou até uma grande intoxicação). E é inútil que repitam incessantemente que não é assim, que apenas estamos na fase previa, que agora é o IBAMA quem tem que estudar e aprovar... Tudo para cumprir as normas legais, claro, pois deu pra perceber que os senhores do meio ambiente são mesmo muito legalistas...em algumas coisas (basta olhar o exemplo da ponte sobre o rio Parnaíba, que vem rolando para cima e para baixo por mais de dez anos e que ainda não foi aprovada. E por quê? Porque uns funcionários preguiçosos ou incompetentes do DNIT, que deveriam estar demitidos e na cadeia, pelos tremendos prejuízos que tem causado à população ao longo de dez compridos anos, não souberam ou não quiseram cumprir normas, minúcias, como possa ser o fato de ter esquecido de algum documento, ter passado da data ou não ter publicado o edital no estado do Maranhão). Mas é claro que os senhores da Minas PCH não vão ter essas falhas legais, pois contratam, sem dúvida nenhuma, os melhores especialistas em todos os campos. E deu para perceber isso com os senhores engenheiros representantes da citada empresa, pessoal competente e preparado, sempre com a resposta pronta para qualquer questão que pudesse ser apresentada.


Isso se mostra claramente, no folheto que foi distribuído massivamente nos três municípios (feito, sem dúvida nenhuma, por autênticos especialistas em comunicação) e que foi o único meio informativo com o qual entrou em contato a maior parte da população, pra conhecer o que estava vindo aí com a construção da usina. Em dito folheto, em papel cuchê, em cores atraentes e com vários desenhos (apto até para os que não sabem ler ou são semi-alfabetizados) se fala única e exclusivamente em BENEFÍCIOS que a dita usina vai trazer para nós e em nenhum momento se diz a palavra IMPACTO, tão repetida nas audiências públicas. Aliás, neste folheto eles falam apenas em “POSSÍVEIS ALTERAÇOES” que a usina irá provocar. Nem certas elas são, apenas “possíveis”, numa clara manipulação informativa, se comparada aos prejuízos admitidos (diante de apenas 150 pessoas) nas audiências públicas.


A minha propriedade, só como exemplo, vai ficar completamente em baixo d’água, tudo o que tenho plantado e feito, casa incluída, ao longo destes 20 anos. Pés de laranja, lima, tangerina, limão, manga, caju, jabuticaba, abacate, atimóia, jaca, coco, carambola, e tantos e tantos outros... que deverão ser cortados ...numa “possível alteração” da minha propriedade e da minha casa. Assim como a das outras 22 famílias que serão expulsas das próprias terras, para não falar das que terão as suas terras inundadas parcialmente. Pessoas que vivem e plantam há décadas na beira do rio, uma vida toda, herança de pais e avós, muitos dos quais sepultados nesses lugares, expulsos “por decreto” das suas casas, das suas terras e chamam isso, com o maior cinismo, de “possíveis alterações”. Isso é fazer pouco do povo, é rir na nossa cara, como se toda uma vida pudesse ser indenizada ou transplantada como se faz com um pé de planta qualquer.  E as matas ciliares e de galeria da beira do rio que também serão destruídas? Mesmo que façam um reflorestamento das mesmas, como prometido... Quantas décadas não deverão passar para que essas árvores atinjam o porte das que agora vão cortar e destruir? Mais uma simples, pequena e sem importância, “possível alteração”. E depois ficam ofendidos por uma frase e com o maior cinismo do mundo pedem para serem respeitados.

Aliás, nas audiências públicas eles falam em programas e planos (um mundo) que são para paliar, na medida do possível, os impactos que a usina vai provocar. Mas no folheto não, pois ao não falar dos impactos esses planos e programas parecem ser outros benefícios acrescentados aos anteriores, algo assim como um Papai Noel fora de época, vindo de Belo Horizonte – MG, que estivesse trazendo presentes para nós.


Nos desenhos do folheto tem, por exemplo, uma lâmpada, com o qual o povo em geral logo pensa que eles vão trazer energia. E não é bem assim, pois nos encontros e nas audiências, (volto a repetir, diante de um reduzido número de pessoas) eles falam aberta e claramente que só vão produzir energia e que a distribuição ou o fato de que ela chegue até nós não depende deles. Energia que irá reforçar, dizem, a carga das linhas de transmissão nas  quais será interligada. Uma gota de água no imenso reservatório do país.

Igualmente estão criando uma falsa expectativa com o número de empregos a serem criados. Eles falam de 310 empregos no “pico da obra”, mas não estão especificando o quanto vai durar esse “pico da obra”. Uma semana? Um mês?...Porque, sem dúvida nenhuma, não vão começar a obra com 310 empregos e nem vão terminar com o mesmo tanto.

Quando eu reclamei por estas coisas durante a Audiência Pública de Alto Parnaíba (aliás, usando uma linguagem coloquial imprópria, certamente, para ser usada numa audiência pública – não se “puxam as orelhas” de um engenheiro chefe e nem de uma empresa em público – e pelo qual pedi desculpas publicamente durante a audiência e depois dela pessoalmente) me foi respondido que o folheto era apenas um convite para participar da audiência. E não é bem assim, pois o folheto traz informações claras e precisas da empresa, da usina, dos benefícios e dos planos a serem implementados. E isso tudo é informação, sim. Informação manipulada. Teria sido bom se o senhor engenheiro tivesse se sentido tão ofendido pela frase em questão como pela falta de ética informativa do folheto.  E quando se pede respeito... tem que saber respeitar primeiro, e eles mostraram pouco respeito pelo povo manipulando-o desse jeito.

Sem dúvida nenhuma uma empresa como a Minas PCH, moderna e eficiente, contrata os melhores, e em diversas ocasiões também elogiei isso e parabenizei pela sua competência e preparação. Porém, uma coisa faltou: quem aceita os elogios deve saber também aceitar as críticas. Nisso se mostra, talvez, o autêntico profissionalismo. E em nenhum momento eles aceitaram qualquer crítica, por mínima que ela fosse, sempre tentando justificar por todos os meios qualquer pergunta que fosse feita. Ninguém é perfeito, e reconhecer as falhas, sejam quais forem, é um bom exercício para crescer na vida.

E agora... O quê?

Apenas esperar, pois essa usina vai sair sim. O IBAMA vai respeitar os prazos que marca a lei e vai dar a licença prévia para a usina ser construída. O que eu espero é que o mesmo IBAMA se mostre tão diligente com a fiscalização dos programas e planos a serem implementados como se mostra com as leis de licenciamento de uma obra. Eu chamei a atenção do mesmo quando perguntei durante a audiência se teria a capacidade de fazer isso, pois todo ano estavam sendo requeridos para fiscalizar a pesca predatória no rio Parnaíba e respondiam que não tinham meios e nem pessoal pra fazê-lo. Pergunto-me então se irão ter meios e pessoal para fiscalizar, ao longo de 30 anos, esses 30 planos e programas propostos no Relatório de Impacto Ambiental ou irão ser, mais uma vez, planos e programas feitos para ficarem apenas no papel....molhado pela represa.



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